A PRIMEIRA PALAVRA DE CRISTO NA CRUZ

A PRIMEIRA PALAVRA DE CRISTO NA CRUZ

“PAI PERDOA-OS, POIS NÃO SABEM O QUE FAZEM” [Lucas 23,24]

Texto de São Roberto Belarmino com algumas modestas palavras deste que vos escreve.

Naquela sexta feira da paixão, na cátedra da cruz, Cristo pregou poucas palavras, porém, as mais dignas que por todos os cristãos fossem recebidas, guardadas e examinadas no fundo do coração e realizada de fatos e por feitos “Pai perdoa-os, pois não sabem o que fazem”, sentença que o Espírito Santo quis que fosse pregada pelo Profeta Isaias “E pediu pelos transgressores” [Is 53-12]

NO TOCANTE A PENA E A CULPA

No tocante a pena, Jesus já havia previsto tal acontecimento quando contou a parábola das núpcias do filho [Mt22] e pelo símile da figueira infrutífera [Lc 13]; depois ainda pelas hábeis palavras que disse no dia das Palmeiras [Lc 19].

A pena poderia ter sido derrubada se tivessem ouvido e se arrependido, porém, foram ouvidos, pois, embora merecessem que caísse fogo do céu e exterminasse todos os judeus, Deus adiou por 40 anos sua pena, mas, como não se arrependessem, o Senhor  enviou contra eles o exército dos Romanos, no tempo do Imperador Vespasiano, que devastou sua principal cidade e matou gente dos judeus, parte de fome, parte pela espada e os dispersou pelo mundo e depois da tomada da cidade os tornaram prisioneiros .

No que diz respeito a culpa, muitos foram perdoados e a oração do Senhor foi atendida, entre os quais estavam aqueles que “retornaram golpeando o próprio peito” [Lc 23,48]; e o centurião que dizia “Ele era mesmo o filho de Deus”[Mt 27,54], e muitos, que pouco depois se converteram a pregação dos apóstolos e confessavam quem tinham negado e adoravam quem tinham desprezados, mas, de que não foi dado a todos a graça da conversão a razão é que a oração de Cristo era conforme a sabedoria e a vontade de Deus. O que escreve noutras palavras São Lucas nos Atos dos Apóstolos, quando diz: “Creram quantos eram predestinados à vida eterna” [At 13,48].

A QUEM CRISTO PEDIU A INDULGÊNCIA

Por estas palavras “Perdoa-os” da se a impressão que primeiramente parece-se tratar daqueles que o pregaram na Cruz e dividiram entre si as suas roupas; em seguida, por todos aqueles que foram responsáveis pela sua razão dominical, como Pilatos, que proferiu a sentença ao  povo que bradou: “Ergue-o, ergue-o, crucifica-o” [Mt 27,22], os príncipes e os escribas que o acusaram falsamente; e para que ascendamos mais alto, também ao próprio primeiro homem, Adão, e toda sua posteridade que deram causa à paixão de Cristo.

E, assim da cruz, vênia a todos os seus inimigos, ou seja, nós todos, conforme diz o apóstolo “Como erámos inimigos, com Deus nos reconciliamos pela morte de seu filho” [Rm 5,10]

“POIS NÃO SABEM O QUE FAZEM”

Desculpar decerto não pudera a injustiça em Pilatos, nem a crueldade nos soldados, nem a inveja nos altos sacerdotes, nem o desatino e a ingratidão no povo, nem os falsos testemunhos nos que andaram perjurando. Só lhe restava que, em todos, lhes desculpassem a ignorância. Pois, com efeito, como diz o apóstolo, “Se o conhecessem, jamais teriam crucificado o Senhor da glória” [I Cor, 2,8]

No entanto, embora não tenham os judeus, nem os altos sacerdotes ou o povo conhecido quem era o Cristo, o Senhor da glória, teriam podido conhece-lo se não tivesse a maldade cegado os seus corações. Pois assim diz São João “Como fizestes diante deles tantos sinais, não criam, pois disse Isaias: Cega o coração deste povo, tapa os seus ouvidos e fecha os seus olhos, para que não vejam com os olhos, não escutem com os ouvidos e se converta e eu os cure” [Jo 12 37-40]

PECAMOS PELA IGNORÂNCIA

Portanto, pecamos pela ignorância, pois temos tantos meios para buscar a Verdade: Os sacramentos, a Santa Igreja, A palavra de Deus, Maria e o Santo Rosário, Os documentos dos Papas verdadeiros, a vida e o exemplo dos Santos e Mártires. Como naquele tempo viram todas as obras do Rei da Glória e se fizeram cegos, não viram diante dos seus olhos, a graça superabundante de Deus, devemos abrir nossa vontade na busca pela Verdade e Deus nos abundará com sua graça.

OS FRUTOS DAS PRIMEIRAS PALAVRAS PROFERIDAS NA CRUZ

“Muitas águas não puderam extinguir o amor nem os rios o apagarão” [Ct 8,8]. Nada pode extinguir o amor que ardia no peito de Cristo naquele momento da cruz, e não só aquelas águas puderam extinguir seu amor, nem depois os rios de perseguição puderam extinguir o amor dos seus discípulos, por isso, os Santos mártires morriam dizendo “Pai perdoa-os” a exemplo de Santo Estevão que bradou “Senhor não lhes impute esse pecado” [At 7,59] e centenas de outros que morreram perdoando seus assassinos segundo o exemplo do Cristo.

Portanto, a amor de Deus aos seus inimigos é tão imenso que nos deu seu próprio filho unigênito para que nele pudéssemos crer e ser salvos. Devemos também perdoar nossos inimigos e rezar por eles.

A oração de Cristo na cruz, fez com que muitos corações fossem transformados, o centurião, o soldado que ficou ali até Jesus morrer, muitos que voltaram batendo no peito arrependidos e se converteram a pregação dos apóstolos e foram batizados.

O TEMPO DA MISERICÓRDIA

Jesus rezou por cada um de nós, em seu peito ardia um amor impossível de ser medido pela razão humana, amor este que fez com que nós seus inimigos pudéssemos alcançar a salvação mediante a conversão a Santa Igreja que ele deixou que é o seu corpo místico na terra.

O tempo da misericórdia de Deus é agora, em Isaias Ele nos ensina “Buscar ao Senhor enquanto se pode achar” [Is 55, 6-7], pois, nosso tempo é limitado e em breve teremos que enfrentar a justiça de Deus quando chegar o momento da nossa partida desse mundo. Por isso, devemos buscar o perdão e a Graça de Deus agora, nesse tempo presente.

Para melhor aprofundamento leiam “As sete palavras do Cristo na Cruz” de São Roberto Belarmino.

E.L.Nunes